Reflexão sobre a Liturgia da Solenidade da Anunciação do Senhor
Queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus,
Dando continuidade às nossas reflexões sobre o caminho litúrgico que percorremos ao longo do ano, hoje nos debruçamos sobre a Solenidade da Anunciação do Senhor, celebração profundamente enraizada no mistério da Encarnação. Esta solenidade, mesmo ocorrendo em pleno tempo da Quaresma, ressoa como um raio de esperança e redenção, antecipando o Advento e o Natal do Senhor. A Igreja, ao celebrar a Anunciação em meio ao itinerário quaresmal, nos recorda que a penitência não exclui a esperança, antes, prepara-nos para acolher a plenitude da redenção.
A primeira leitura, do profeta Isaías, apresenta-nos a promessa messiânica: "Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel" (Is 7,14). Deus, na sua fidelidade, não abandona seu povo, mas intervém de modo definitivo na história humana, encarnando-se no seio da Virgem Maria. A profecia, anunciada a Acaz, encontra seu cumprimento em Nazaré, quando o anjo Gabriel visita Maria e a saúda com palavras carregadas de graça e promessa: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1,28).
Na carta aos Hebreus, contemplamos a dimensão sacrificial do Verbo encarnado: "Eis que eu venho para fazer a tua vontade" (Hb 10,9). Cristo não se encarna apenas para estar entre nós, mas para nos redimir. A sua entrada no mundo é o cumprimento do desígnio eterno do Pai: Ele é o verdadeiro sacrifício que substitui as oferendas imperfeitas da Antiga Aliança. A Encarnação e a Cruz estão intrinsecamente unidas: ao dizer "sim" à vontade do Pai, Jesus se faz oferenda por nós.
No Evangelho narrado por São Lucas, vemos as figuras centrais desta solenidade: a Virgem Maria e o Verbo Divino. O "Eis-me aqui" da jovem de Nazaré é o paradigma da obediência e da entrega confiante. Ela não apenas aceita passivamente o chamado divino, mas responde com disposição ativa: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Seu sim reverte a desobediência de Eva, seu "faça-se", no momento que prepara a humanidade para um novo tempo de salvação, de recriação, liga-se perfeita e intimamente ao "faça-se" do Criador; a aceitação da Mãe é um eco da disposição do Filho: "Venho, Pai, para fazer a tua vontade". Caríssimos, que a nossa vontade também seja fazer a Vontade do Senhor!
A mariologia nos ensina que Maria é a primeira redimida pelo sacrifício de Cristo, preservada do pecado original pela graça singular da Imaculada Conceição. Ela é, portanto, a primeira beneficiária da redenção e a primeira a viver plenamente a esperança messiânica. O anjo Gabriel, mensageiro da promessa divina, nos recorda que Deus é fiel à sua aliança e não nos abandona. A Encarnação é a suprema prova desse amor, desse Deus que assume nossa carne para nos resgatar.
Neste Ano Santo da Esperança, somos chamados a contemplar a esperança encarnada no ventre de Maria. A esperança cristã não é uma expectativa vazia, mas uma certeza fundamentada na fidelidade de Deus. Como Maria, somos chamados a ser mensageiros da esperança, a testemunhar, com nossas palavras e gestos, que Cristo é nossa única e verdadeira esperança.
Ao meditarmos sobre este mistério, renovemos nosso compromisso de viver e anunciar a Boa Nova. O mundo está repleto de vozes de desespero e morte; nós, porém, somos chamados a ser arautos da vida, anunciadores da graça, da verdade e da misericórdia. Que o "sim" de Maria inspire nossa resposta cotidiana a Deus, para que também possamos dizer, com coragem e alegria: "Eis-me aqui, Senhor!"
Guiados pelo Espírito Santo e sob a proteção da Virgem Santíssima, Mãe de Deus e nossa, possamos viver não no medo, mas na coragem e na esperança, comunicando ao mundo inteiro “a alegria e a paz do nosso Redentor”!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!