HOMILIA DE DOM PHILIPE CARDEAL MATHAUS
8º DOMINGO DO TEMPO COMUM
ARCEBISPO METROPOLITANO DE APARECIDA E PRIMAZ DO BRASIL
02.03.25
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho que hoje ouvimos nos apresenta ensinamentos preciosos de Jesus sobre a nossa caminhada espiritual. Ele nos alerta contra a cegueira espiritual, a hipocrisia e a necessidade de uma vida coerente com os valores do Reino de Deus.
Jesus inicia com uma pergunta provocativa: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39). Essa imagem nos faz refletir sobre nossa responsabilidade como discípulos. Muitos de nós desejamos orientar, corrigir ou ensinar os outros, mas será que estamos enxergando com clareza? Será que estamos nos deixando guiar primeiro por Cristo, que é a luz do mundo? Não podemos oferecer aos outros aquilo que não temos. Se não buscamos antes nossa própria conversão, corremos o risco de conduzir os outros ao erro.
Em seguida, o Senhor nos fala sobre a hipocrisia: “Por que vês o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?” (Lc 6,41). Como é fácil notar os erros dos outros e ignorar os nossos!
Muitas vezes, somos impacientes com as falhas alheias, mas indulgentes com nossas próprias fraquezas. Jesus não nos proíbe de corrigir o próximo, mas nos ensina que a verdadeira correção fraterna nasce da humildade. Só quem reconhece suas próprias misérias pode ajudar os outros com misericórdia e verdade.
Por fim, o Senhor nos ensina que “não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons” (Lc 6,43). Aqui está o critério fundamental da vida cristã: nossos frutos revelam quem realmente somos. Nossas palavras, atitudes e escolhas são sinais daquilo que guardamos no coração. Se estamos enraizados em Cristo, se nos alimentamos da Sua Palavra e da Eucaristia, então nossa vida produzirá frutos de bondade, amor e justiça.
Queridos irmãos, esse Evangelho nos convida a um exame sincero: estamos sendo guias cegos ou verdadeiros discípulos de Cristo? Julgamos os outros sem antes olharmos para nós mesmos? Que frutos nossa vida tem gerado?
Peçamos a graça de um coração humilde, capaz de reconhecer suas falhas, e de um coração bom, cheio do Espírito Santo, para que nossas palavras e ações sejam testemunho do amor de Deus no mundo. Assim, seremos verdadeiras árvores boas, que refletem a luz de Cristo para aqueles que estão à nossa volta.