Reflexão sobre a Liturgia do III Domingo da Páscoa - 04.05.2025
Queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus,
Congregados pelo Espírito Santo neste terceiro domingo do Tempo Pascal, somos convidados a celebrar o mistério da Ressurreição de Cristo: o Senhor da vida, vencedor do mal e da morte, que subiu aos céus, enviou-nos o Espírito Santo e prometeu voltar. O tempo pascal é tempo de esperança, de restauração e de amor que nos levanta dos abismos, que inflama nossos corações com o fogo da fé, que nos devolve o vigor da alma e a alegria de viver.
A primeira leitura nos apresenta os apóstolos diante do Sinédrio, sendo interrogados, açoitados e proibidos de falar no nome de Jesus. Mas saem dali "contentes, por terem sido considerados dignos de sofrer injúrias por causa do nome de Jesus". Que amor era esse, irmãos, que os fazia suportar tudo com alegria? Era o amor À Verdade que anunciavam: Cristo, ressuscitado, vivo, presente, Senhor absoluto da história. A chama do Ressuscitado os consumia por dentro. Não pregavam uma ideia, mas uma Pessoa viva. Por isso, mesmo sob ameaças, diziam: "É preciso obedecer a Deus antes que aos homens."
Quantas vezes nós, no entanto, hesitamos em viver publicamente nossa fé. Sentimos vergonha de fazer o sinal da cruz, de defender os valores do Evangelho, de dizer com simplicidade: "Eu creio no Senhor Jesus." Mas lembremos as palavras de Jesus em Mateus 5,11-12: "Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus!"
O Salmo de hoje proclama essa verdade: "Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes!" O Senhor nos tira do abismo, nos livra da morte, transforma nosso pranto em festa. Ele nos restaura, assim como restaurou Pedro à beira do lago de Tiberíades.
No Evangelho, vemos a beleza dessa restauração. Os discípulos tinham visto Jesus Ressuscitado duas vezes, e mesmo assim voltaram a pescar. Estavam confusos, como quem tenta voltar ao antigo modo de vida. Mas Jesus os surpreende mais uma vez: aparece na praia, provoca nova pesca milagrosa e prepara o pão e o peixe para comer com eles. Como no começo de tudo, Ele os reconduz à missão, ao amor primeiro.
Pedro, ao ouvir do discípulo amado: “É o Senhor!”, cobre-se e se lança ao mar. Como Adão no Gênesis, que percebeu sua nudez após o pecado, Pedro também se vê frágil e, como podemos ver um pouco mais adiante, envergonhado pelas negações. Mas Jesus, com delicadeza e amor, o chama pelo nome: “Simão, filho de João…”, como quem diz: “Vamos começar de novo?”
E então vem o diálogo mais comovente de todo o Evangelho. No original grego:
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Jesus pergunta: “Simão, filho de João, ἀγαπᾷς με (agapâs me)?” — Tu me amas com amor pleno, absoluto, divino?
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Pedro responde: “Κύριε, σὺ οἶδας ὅτι φιλῶ σε (Kýrie, su oídas hóti philô se)” — Senhor, tu sabes que eu gosto de ti, tenho afeição por ti.
Duas vezes Jesus usa o verbo agapáô (amar com totalidade), e Pedro responde com philéô (gostar, querer bem). Na terceira vez, Jesus desce ao nível de Pedro e pergunta: “Phileîs me?” — “Tu me queres bem, ao menos isso?” — Pedro entristece, e responde: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te quero bem.”
Jesus aceita o amor que Pedro é capaz de dar, mas o convida a crescer, a amadurecer, a apascentar os cordeiros e as ovelhas, a confirmar os irmãos na fé. É uma nova missão: restaurado no amor, Pedro poderá ser pedra da Igreja. O chamado final é simples e profundo: “Segue-me!”
Essa palavra vale para nós, hoje: Segue-me!
Segue-me quando o mundo zomba da tua fé.
Segue-me quando a cruz parece pesada.
Segue-me quando tua alma for restaurada.
Segue-me com teu amor limitado, e eu te ensinarei a amar com plenitude.
Segue-me! — mesmo que não entendas tudo, mesmo que tenhas falhado, mesmo que só consigas dizer: “Senhor, eu gosto de Ti” — Jesus acolhe isso, porque quer te levar a mais.
Por fim, no Apocalipse, vemos todas as criaturas no céu, na terra e debaixo da terra prostradas em adoração diante do Cordeiro. Porque Ele é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor! Toda a criação canta: “Amém!” — e nós com ela nos unimos ao louvor eterno do céu.
Queridos irmãos, adoremos o Senhor com nossa vida. Não tenhamos medo de amar Aquele que nos amou primeiro. Deixemo-nos restaurar por Ele. Voltemos ao primeiro amor. E escutemos em nosso coração a voz do Ressuscitado que nos chama hoje:
SEGUE-ME.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!