Queridos irmãos em Cristo Jesus,
Nesta tarde santa, ao darmos início ao Tríduo Pascal, celebramos a Ceia do Senhor dentro de um lugar que carrega marcas profundas de dor, espera e, sobretudo, possibilidade de recomeço: um complexo penitenciário. Antes desta celebração, tive a graça de escutar vossas confissões. Abristes vossos corações à misericórdia de Deus, buscastes o perdão, e com sinceridade pedistes uma nova chance — não apenas perante a justiça dos homens, mas perante o olhar amoroso do Pai. Depois, passamos juntos pela Porta Santa instalada na capela da prisão, sinal sacramental do Jubileu, e agora estamos aqui, reunidos ao redor da mesa do Senhor, prestes a viver o gesto do lava-pés: o símbolo concreto de um amor que se inclina, que serve, que perdoa.
Estamos vivendo o Ano Santo da Esperança — proclamado pela Igreja como tempo de indulgências, de reconciliação, de retorno ao essencial. Um tempo que nos recorda que a misericórdia de Deus não está trancada, nem ausente, e que a esperança cristã não é uma ilusão: é certeza de que Deus caminha conosco mesmo nas situações mais difíceis e fechadas. É o tempo favorável para renovar a fé, deixar-se abraçar pelo perdão e abrir-se à graça que transforma.
Caríssimos, as leituras de hoje nos conduzem ao coração do mistério que celebramos:
A primeira leitura nos apresenta o Cordeiro Pascal, o sangue nos umbrais das portas, o alimento apressado. É a memória viva da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. Mas não é apenas passado: esse cordeiro prefigura o Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo e nos resgata da escravidão interior. A libertação dos cativos, anunciada por Isaías, já era sinal da justiça e da bondade de Deus: “O Espírito do Senhor está sobre mim... enviou-me a proclamar a libertação aos presos.” Palavras retomadas pelo próprio Jesus no início de sua missão. Hoje, nesta tarde, estas palavras ressoam com força: é possível recomeçar. A graça de Deus chega até os cárceres e os transforma em espaços de salvação.
Na segunda leitura, São Paulo nos transmite a instituição da Eucaristia: “Isto é o meu corpo... este cálice é a nova aliança em meu sangue.” Aqui, neste ambiente marcado pela limitação da liberdade exterior, celebramos o Sacramento da verdadeira liberdade: a liberdade dos filhos de Deus. A Eucaristia é presença viva de Cristo entre nós, é comunhão com Aquele que não nos abandona. No ano do Jubileu da Esperança, este Sacramento se torna fonte de indulgência, força para a conversão, e certeza de que somos amados mesmo quando o mundo nos despreza.
No Evangelho, antes de repartir o pão, Jesus se ajoelha. Lava os pés dos discípulos. Ele — o Senhor — se faz servo. Esse gesto não é só humildade: é a nova lógica do Reino. É amor até o fim. É serviço que redime. Aqui, onde tantas vezes se experimenta o abandono, a frieza e a dureza, Jesus vem nos ensinar que a verdadeira grandeza está em servir, em tocar os pés do irmão e dizer: “Tu és digno de amor.”
Como nos ensina a Constituição Dogmática Lumen Gentium, a Igreja é sacramento universal de salvação. E aqui se cumpre essa missão: neste presídio, nesta capela, nesta comunidade de fé que se forma entre grades, lágrimas e esperanças. A Igreja está aqui, e Cristo está no meio de nós.
Queridos irmãos, somos convidados a deixar-nos lavar por Jesus. Que este rito, que em breve repetiremos, seja sinal de que o amor nos alcança. Que esta Eucaristia fortaleça nossa esperança. E que este Jubileu se cumpra também aqui, com o perdão, com o recomeço, com a confiança de que ninguém está fora do alcance da misericórdia divina.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!