Queridos irmãos em Cristo Jesus,
Nesta noite santa, somos conduzidos ao coração do mistério cristão. Celebramos a Ceia do Senhor, o testamento de amor deixado por Jesus antes de sua paixão, e somos convidados a viver aquilo que pedimos na oração coleta: chegar à plenitude da caridade e da vida. A Palavra de Deus que ouvimos nos apresenta três sinais entrelaçados, três manifestações de um mesmo mistério: o Cordeiro Pascal, a Eucaristia e o Lava-pés.
Na primeira leitura, vemos a instituição da Páscoa como memória viva da libertação do povo de Deus. O cordeiro imolado, o sangue nos umbrais das portas, a refeição apressada — tudo isso prefigura o sacrifício de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Assim como o sangue do cordeiro livrou os filhos de Israel da morte, o sangue de Cristo nos resgata da escravidão do pecado e nos introduz na liberdade dos filhos de Deus.
Na segunda leitura, São Paulo nos transmite o gesto de Jesus durante a última ceia: “Isto é o meu corpo... este cálice é a nova aliança em meu sangue.” A Eucaristia não é apenas recordação, mas atualização do sacrifício da cruz. É o banquete do amor, onde Cristo se entrega por nós e permanece conosco. É o alimento dos peregrinos, o remédio da alma, o vínculo da caridade. Por isso o salmista proclama com alegria: “O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor!”
No entanto, ao chegarmos ao Evangelho, somos surpreendidos. Antes de partir o pão, Jesus se ajoelha. Ele, o Senhor, se faz servo. Toca os pés dos seus amigos e os lava com as próprias mãos. Não é apenas um gesto de humildade, mas uma nova forma de reinar. “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz.” Aqui se revela o coração desta noite: a Eucaristia sem o serviço é incompleta. O altar e a bacia caminham juntos. Não basta comungar, é preciso amar.
Hoje, iniciamos o Tríduo Pascal. Começa a Páscoa da doação. Cristo entra em sua paixão com uma toalha na cintura e um coração transbordando de amor. Ele se inclina diante de nós, lava nossos pés marcados pela caminhada, alimenta-nos com o pão da vida, e nos confia uma missão: “Fazei isto em memória de mim.” Fazei isto — não apenas a celebração da Missa, mas também o serviço humilde, a entrega generosa, a caridade concreta.
A Ceia do Senhor nos aponta o caminho da plenitude da vida: amar como Ele nos amou. Nesta noite, deixemo-nos tocar por este amor que se faz presença real no altar e gesto de cuidado e humildade no lava-pés, um amor que nos transforma em servos e irmãos.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!