Querido presbitério de Aparecida aqui presente, querido povo de Deus aqui reunido,
Nesta liturgia solene celebramos o Cristo, o Ungido do Pai, Sumo e Eterno Sacerdote, a quem nós, sacerdotes, nos configuramos ao receber a unção com o Óleo do Crisma no sacramento da Ordem. Fomos ungidos para sermos testemunhas do Cristo.
Querido clero aqui presente, vós fostes ungidos com o óleo da alegria, no Espírito Santo, para serdes fiéis testemunhas do Cristo, que amou e obedeceu ao Pai por toda a sua vida, “obediente até a morte, e morte de cruz”, para que, por Ele, recebêssemos a graça de, no Espírito Santo, chamarmos Deus de Pai.
O Batismo na água e no Espírito Santo é o sacramento pelo qual somos iniciados na fé. Na celebração batismal, também recebemos a unção em nosso peito. Somos ungidos para viver a missão de, como filhos de Deus, sermos comunicadores do seu amor.
A Eucaristia, que Cristo instituiu na Última Ceia, é um passo essencial em nossa caminhada de fé, pois neste sacramento não recebemos apenas a graça, mas o próprio Autor da graça. Recebemos este dom uma vez para que continuemos a celebrá-lo até nosso encontro definitivo com o Senhor, fazendo sua memória e esperando a realização da sua promessa de vida eterna.
Para acolher dignamente o Senhor Jesus em nossos corações, é necessário estarmos em comunhão com Deus, com os irmãos e conosco mesmos. Se por vezes nos desviamos do Caminho, podemos buscar o perdão por meio do sacramento da Reconciliação, onde o padre, na pessoa de Cristo, nos atende com amor e nos concede a absolvição — não em seu nome, mas em nome do Deus Uno e Trino — para que vivamos livres do peso opressor do pecado.
Pela unção com o Santo Crisma em nossas frontes, tornamo-nos discípulos missionários do Reino, maduros na fé, chamados a dar continuidade à missão de anunciar ao mundo o amor de Deus. Assumimos, pela unção crismal, o tríplice múnus de Rei, Profeta e Sacerdote, vivendo a fé com seriedade e responsabilidade, a fim de que o Senhor nos conduza, por sua ação, no caminho a seguir.
Os sacramentos que se seguem não são simples opções, mas frutos de discernimento e escuta atenta à voz do Senhor, que nos chama constantemente ao seu serviço.
Tanto a Ordem quanto o Matrimônio são sacramentos de entrega, serviço e doação.
No Matrimônio, os esposos doam-se um ao outro e são chamados, por Deus que abençoa sua união esponsal, a darem continuidade, como uma só carne e um só coração, à obra criadora, respondendo ao chamado divino com amor, acompanhados da bênção da fecundidade: “Sede fecundos e multiplicai-vos”.
O casal é convidado a viver sempre no amor, ensinando seus filhos a viverem nesse mesmo amor — não o amor inconstante dos homens, mas o amor divino: fiel, duradouro e redentor.
O sacramento da Ordem também é um chamado à entrega e à doação. Aquele que deseja unir-se a Cristo deve seguir seu exemplo, oferecendo-lhe a vida e buscando viver como Ele, que se doou e continua a se doar por nós — ontem no Calvário, hoje no altar — onde se faz sacrifício vivo por meio das mãos consagradas de um homem que, como sacerdote, foi ungido com o Santo Crisma. Suas mãos foram ungidas, sobre uma mesa também ungida, num altar consagrado com o mesmo óleo. E aquele que o ungiu também teve sua cabeça ungida, pois recebeu a missão de ser pastor do povo de Deus e sucessor dos apóstolos — o bispo, ungido na fronte, chamado a proclamar o amor de Deus, sendo o primeiro entre os servos, não por ser maior, mas porque o Todo-Poderoso realiza nele a sua obra. E esse primeiro é exemplo, pastor entre as ovelhas, mas consciente de que é vaso nas mãos do Oleiro, e deve deixar-se moldar por Ele.
O último dos sete sacramentos é a Unção dos Enfermos — unção com óleo abençoado nesta liturgia — para ser sinal do amor de Deus e conforto àquele que sofre, presença concreta da cura e da graça divina.
Este sacramento é ministrado por um sacerdote, que teve suas mãos ungidas com o Crisma, por outro que teve sua cabeça ungida... e assim por diante. Todos esses sacramentos se entrelaçam. O sacerdote só é ordenado após receber os sacramentos da Iniciação Cristã, levado à pia batismal por pais que, por sua vez, também receberam a Crisma, a Eucaristia e o Batismo. E tudo começa com a unção, feita por um sacerdote... um ciclo de graça e entrega que se repete e se renova.
Caríssimos, como é belo este ciclo! E nós estamos aqui justamente para abençoar os óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos e para consagrar o Santo Crisma, que ao receber o sopro — sinal do Espírito Santo — torna-se expressão visível da graça de Deus, fazendo com que esse ciclo de graça se perpetue.
A liturgia de hoje é especial. As leituras desta Missa nos falam claramente de três grandes realidades que quero refletir convosco: unção, serviço e amor.
1. UNÇÃO
Jesus, ao pedir que João o batize, é ungido com o óleo da alegria — o Espírito Santo — e ouve-se do céu a voz do Pai: “Este é o meu Filho amado”. No Evangelho que acabamos de ouvir, Ele proclama o texto do profeta Isaías na sinagoga e, após a leitura, senta-se com autoridade, como faziam os mestres, e declara: “Hoje se cumpriu esta Escritura que acabastes de ouvir.”
Hoje também se cumpre a promessa anunciada pelo profeta. O Cristo, que veio não para proclamar o dia da vingança, mas o tempo da graça, se doa a nós na Palavra e na Eucaristia. Ele é o Ungido, que reúne os apóstolos, proclama libertação aos cativos, cura os cegos, consola os abatidos, inaugura para a humanidade um tempo de graça e salvação.
Como Ele, nós também fomos ungidos no Batismo e confirmados na Crisma. Participamos de sua missão como reis, profetas e sacerdotes, ungidos com o óleo da alegria. Esta unção não é adorno, mas um envio: somos ungidos para sermos presença do Reino neste mundo.
2. SERVIÇO
A unção nos impulsiona ao serviço. Não fomos ungidos para viver no conforto da indiferença, mas para o compromisso com os irmãos. Somos chamados à fraternidade, à doação, à solidariedade, à caridade. É no serviço que o cristão encontra sua vocação mais profunda.
Servir é a forma mais concreta de amar a Deus e ao próximo. E ao servir, não devemos esperar aplausos nem honrarias. O verdadeiro serviço é silencioso, generoso, constante. É tempo oferecido, gesto partilhado, amor encarnado.
Sirvamos com alegria, com empenho, com ternura. E tenhamos diante dos olhos sempre o exemplo do Senhor Jesus, que, “tendo amado os seus, amou-os até o fim”. Ele nos mostra que servir é reinar, que doar-se é viver plenamente.
3. AMOR
O amor é a origem e o fim de tudo: fomos criados por amor, salvos por amor, consagrados no amor. A unção que recebemos é uma unção de amor, e o serviço que prestamos é expressão concreta desse mesmo amor.
Cristo nos amou e se entregou por nós. E nos chama a sermos testemunhas desse amor. Amor que perdoa, que acolhe, que gera comunhão. Amor que se expressa na caridade cotidiana, no cuidado com o próximo, na sensibilidade diante da dor alheia.
Somos, pelo Espírito Santo, capacitados a amar como Ele amou: com generosidade, com perdão, com entrega. E neste dia, ao consagrarmos o Santo Crisma e abençoarmos os santos óleos, imploremos ao Senhor que nos renove na unção, nos fortaleça no serviço e nos inflame no amor.
Que o Espírito Santo infunda em nós, a cada dia, a graça e o amor de Deus. Sejamos mais capazes de amar, perdoar e servir. E que a Virgem Maria, mulher do sim, serva fiel do Senhor, nos ensine a servir com alegria e fé no coração.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!